Os sentimentos não têm Tempo

Cada época tem dificuldades, objectivos e maneiras distintas de se viver, estar e até sonhar...só mesmo o sentir é na realidade o único sentimento resistente ao tempo.
Nesta nossa época a dificuldade é pagar os 50 empréstimos que se têm para as 500 coisas que se querem em casa: os Lcds, o móvel XPTO, a Bimbi, a Playstasion, o carro... dizemos que estamos mal, mas felizmente temos (regra geral) a dispensa com comida mais que suficiente,  temos café, chocolate e chás, temos queijo fiambre... pensam " possa, mas isso é o essencial"!!! - é verdade o essencial!

E dá-me graça...

Noutras épocas não haviam as coisas todas que nos ajudam no dia,a dia (todo o tipo de maquinetas), não havia subsidios aos pontapés, não se comia mais que o suficiente e houve durante anos o fantasma de ir parar a África...

Isto tudo para chegar ao tempo dos meus avós... Anos 30/40

Eu falei do sentir e porquê? Porque a injustiça, a falta de respeito pelo próximo, a indiferênça, a mágoa, todos estes sentimentos são intemporais, doem sempre da mesma maneira!

O meu avô Camilo conta repetidas vezes as suas histórias fabulosas de rapaz, e mais algumas ainda de criança, e estas de criança que para muitos é mais uma história, mais uma repetição; para mim é mais uma vez a lembrança de uma mágoa imensa que em mais de 70 anos não passa...é mais uma chamada de atenção para que desta vez se oiça a injustiça que se foi alvo, é mais um grito sofocado em criança; de criança adulta que não teve direito a quase nada... a não ser frio, falta de amor, e quase fome!Porquê? Eram tempos dificeis? Sim...mas não para todos!

O meu avô António fala muitas vezes também quando foi preso sem ter culpa, sem se poder defender, privado de ver nascer a primeira filha, enfim...hoje com 93 anos ainda chora cada vez que se lembra dos 65 que se separam dessa época!

E toda esta repetição é não mais um grito surdo de gente que não podia, nem se atrevia a constestar as suas vidas, era assim... não havia mais nada!

Hoje sobra-lhes o lamento, alguma tristeza, um conforto por parte dos mais novos com um abraço, um beijo,mas... a nossa dor, morre connosco, não passa...

amante, amor, amada

Porque tenho várias mulheres dentro de mim que querem muito falar, espernear, gritar e diabo a sete... vi-me obrigada a dar-lhes um lugar só delas em que sou amante, amor, amada.

Esta terra que piso será sitio de reflexão, descontetamento, alegrias... um pouco de tudo, o lugar das mulheres que estão em  mim é mesmo para os seus próprios desabafos e confidências!

choro-te, esqueço...

tanto tempo absorvido
neste teu doce amar
para depois o ver perdido
num simples gesto... num olhar!

                                      
                                      
sei que não te posso ter
mas o teu amor, esse já é meu
e por mais que faça doer, esta força  de te querer
é a mais dorida que o meu peito te deu!

afasto-me de mim
deixo-me adormecer
na noite embalo-me no frio 
choro-te, esqueço,deixo-te  morrer! 

somos feitos de rituais


Morte, ritual, dor, choro e já está...
É sempre assim quando se trata do fim da vida humana

Eu fui a um funeral (felizmente só o  2º na minha vida), e foi uma mistura de sentimentos estranhos. Não era uma pessoa chegada, o que me facilitou a tarefa, mas o ter familiares chorosos, e ver gente tão triste sempre pesa. Mas o que me "assustou" é o ritual... vai tudo a seguir a carreta, 2 ou 3 choram muito e outros vão numa tremenda cavaqueira, fala-se dos vizinhos, encontra-se gente que não se vê há muito tempo, ri-se um pouco e pronto chega-se ao pé do buraco. Eu própria ia a deslumbrar a rua de jazigos em que estavamos a passar, parece um gosto obscuro, mas de facto todos aqueles edificios são mesmo bonitos exemplares de arquitétura, e continuava a falar com o meu marido quando sentimos  uma vontade imensa de rir (o que é normal em nós nestas situações vai-se saber lá porquê minha nossa!!) quando nos lembramos de uma história da minha avó fechada num jazigo que andava a limpar!!

Ora lá continuamos a caminhada e paramos porque o outro corpo ainda não estava enterrado, e mais um bocado de conversa; desta feita com um neto da defunta, a quem tive de dar os parabéns por ser pai e os sentimentos por lhe morrer a avó... bizarro!!!Mas pronto mostrou-me as fotos do rebento e lá continuamos!!
Abre-se a urna... chouro alto, e um pouco de drama claro está!! O neto já se esqueceu do filhote que me mostrou há segundos e chora. A urna vai para o buraco e toda a terra e calhaus tapam para sempre aquele humano, e uma senhora desabafa " que terra tão pesada tu levas em cima, deus nosso senhor te a ponha leve".Seguem-se os últmos pêsamos e alguém remata " pronto e já está, lá fica mais uma".
Por mais que se saiba que todos teremos aquele fim nada se faz a pensar que vamos também para aquele buraco, senão não iamos naquela descontracção a seguir um morto e a pensar... coitado!!


Eu até percebo que tem de ser mesmo assim senão provávelmente não veriamos lógica em  cá andar ( por isso é que my sister acha um desperdicio morrermos... começo a concordar com ela eh eh)
E cada vez mais chego à conclusão que o ser humano é feito de rituais... este ainda não o tinha feito com idade ou lucidez suficiente para perceber todo este desligamento do ser humano sobre o seu próprio fim!!

(é mesmo como o poema do Álvaro de Campo Se te Queres Matar )



Filhos?!

Discussão em cima da mesa... porquê ter filhos? Pergunta estranha?
Tão estranha como porquê não queres filhos?
Já me tinha "apanhado" a pensar nisto claro, mas nunca cheguei a uma conclusão, que respondesse a esta questão que se abraça com a minha sister...


Então tive um pensamento terrivel

Teremos nós filhos (sem contar a parte animalesca, claro, da procriação) por pensarmos que:
 aqui posso mandar como eu quiser, moldar como eu quiser... ser eu nesta pessoa

por instinto,ou pelo que seja, sempre o senti

sou mãe

e agora talvez
consiga explicar o que quero fazer 
antes de o ser... nã... não sabia!!!!




Na verdade sabe mais o porquê de quem não quer filhos, do que quem quer!!!





 esta terra que piso
tem outro cheiro, outra suavidade, outra textura
 é a mesma de sempre
eu não sou